quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

GUIDO E CARI

Marido ciumento e com razão: Sou loira, olhos de um azul profundo, corpo esguio e, ainda por cima, italiana, o que provoca desejos ocultos ou explícitos pelos lugares onde passamos.

O que pode surpreender, ou mesmo chocar, é que temos um relacionamento liberal muito gostoso e excitante. E o ciúme dele vira uma espécie de superproteção e ele quer ter o controle de tudo. Quem serão os nossos parceiros, como serão os encontros, etc. etc. etc.

Com jeitinho, consigo o que quero, mas, às vezes, o roteiro é imprevisível.

Havíamos combinado com um conhecido nosso, mas que furou na última hora. Libido ativada, produção caprichada e mesa em um famoso barzinho reservada, não seriam em vão.

Fomos só nós dois e eu sabia que ele nunca toparia um encontro sem ser programado.

Por azar ou sorte, nossa mesa fica ao lado de dois homens na faixa dos trinta anos, bronzeados e que me comem com os olhos e faço o charme natural de toda mulher que se sabe desejada.

Sento em frente aos dois e o pobre do Guido fica de costas. Logo percebe meu sorriso, vira rapidamente e sugere que mudemos de mesa.

Tolinho, eu digo, deixem que apreciem sua mulher gostosa. E cruzo lentamente minhas pernas: Você está sem calcinha? Eles viram alguma coisa?

O sorriso é cada vez maior, tiro onda de seu ciúme e começamos a beber nossos drinks. O clima fica mais calmo, mas os dois homens estão inquietos, como animais sentindo o cheiro da caça.

Descontraídos pela bebida, levanto para ir ao banheiro, mas fico em pé uns longos segundos ajeitando roupa e cabelo, abaixo para dar um beijo bem safado no Guido e minha bunda fica a poucos centímetros da outra mesa.

Ainda ouço um “comporte-se”, mas é impossível segurar o sorriso cada vez mais aberto em meu rosto.

Na volta sento com as pernas entreabertas, e o Guido, um pouco incomodado quer saber se estou de calcinha. Digo: quem sabe, sorrio, jogo os cabelos e não preciso olhar para adivinhar a reação da mesa ao lado.

Peço para o Guido puxar assunto com os dois, mas ele resiste. Digo que vou abrir mais minhas pernas e ele pergunta se são de Vitória e se estão gostando do barzinho.

Surpresos dizem que são mineiros, a trabalho, o barzinho é bom, atendimento correto, mas a comida deixa a desejar. Mais algumas trivialidades e o novo amigo pontua: Desculpe minha ousadia, mas sua esposa é muito bonita. É a deixa para eu entrar na conversa e se surpreendem com meu sotaque.

Convido para juntarmos as mesas e percebo a raiva nos olhares do Guido, mas ele nunca seria grosseiro e tenta segurar seu desconforto.

O clima de sedução explode e pergunto para o Guido, em italiano, se posso revelar que somos liberais. De jeito nenhum, e conduzo o assunto sobre o que acham das mulheres de vitória, e se resistem as tentações mesmo sendo casados.

Um deles inclina o corpo, posição de ataque, querendo alcançar meu perfume e também me aproximo.

Tudo meio imperceptível, ou talvez não, e o Guido já não sabe como desfazer nossa química.
Sair com os dois seria impossível, então passo discretamente um bilhete com meu telefone e a mensagem. Se quiser, me liga, só você, ainda hoje.

Volto para minha posição original, abro meu telefone e deixo os três sem assunto. Logo peço para ir embora, com cara de chateada e o Guido quer saber o que tinha no bilhete.
Mantenho o suspense e só revelo já dentro do carro.

Entre chateado e excitado ele confere e vê que ainda estou de calcinha: - Ao menos isso. E se o cara ligar?

Tiro a calcinha, coloco os pés no painel com as pernas bem abertas e murmuro:


Hoje sou só sua: número errado.

Rimos, nos xingamos, nos beijamos e entramos no primeiro motel. Seria perda de tempo esperar até em casa.

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