Marido ciumento e com razão: Sou loira, olhos de um azul
profundo, corpo esguio e, ainda por cima, italiana, o que provoca desejos
ocultos ou explícitos pelos lugares onde passamos.
O que pode surpreender, ou mesmo chocar, é que temos um
relacionamento liberal muito gostoso e excitante. E o ciúme dele vira uma
espécie de superproteção e ele quer ter o controle de tudo. Quem serão os
nossos parceiros, como serão os encontros, etc. etc. etc.
Com jeitinho, consigo o que quero, mas, às vezes, o roteiro
é imprevisível.
Havíamos combinado com um conhecido nosso, mas que furou na
última hora. Libido ativada, produção caprichada e mesa em um famoso barzinho
reservada, não seriam em vão.
Fomos só nós dois e eu sabia que ele nunca toparia um
encontro sem ser programado.
Por azar ou sorte, nossa mesa fica ao lado de dois homens na
faixa dos trinta anos, bronzeados e que me comem com os olhos e faço o charme
natural de toda mulher que se sabe desejada.
Sento em frente aos dois e o pobre do Guido fica de costas. Logo
percebe meu sorriso, vira rapidamente e sugere que mudemos de mesa.
Tolinho, eu digo, deixem que apreciem sua mulher gostosa. E
cruzo lentamente minhas pernas: Você está sem calcinha? Eles viram alguma
coisa?
O sorriso é cada vez maior, tiro onda de seu ciúme e
começamos a beber nossos drinks. O clima fica mais calmo, mas os dois homens
estão inquietos, como animais sentindo o cheiro da caça.
Descontraídos pela bebida, levanto para ir ao banheiro, mas
fico em pé uns longos segundos ajeitando roupa e cabelo, abaixo para dar um
beijo bem safado no Guido e minha bunda fica a poucos centímetros da outra
mesa.
Ainda ouço um “comporte-se”, mas é impossível segurar o
sorriso cada vez mais aberto em meu rosto.
Na volta sento com as pernas entreabertas, e o Guido, um
pouco incomodado quer saber se estou de calcinha. Digo: quem sabe, sorrio, jogo
os cabelos e não preciso olhar para adivinhar a reação da mesa ao lado.
Peço para o Guido puxar assunto com os dois, mas ele
resiste. Digo que vou abrir mais minhas pernas e ele pergunta se são de Vitória
e se estão gostando do barzinho.
Surpresos dizem que são mineiros, a trabalho, o barzinho é
bom, atendimento correto, mas a comida deixa a desejar. Mais algumas
trivialidades e o novo amigo pontua: Desculpe minha ousadia, mas sua esposa é
muito bonita. É a deixa para eu entrar na conversa e se surpreendem com meu
sotaque.
Convido para juntarmos as mesas e percebo a raiva nos
olhares do Guido, mas ele nunca seria grosseiro e tenta segurar seu
desconforto.
O clima de sedução explode e pergunto para o Guido, em
italiano, se posso revelar que somos liberais. De jeito nenhum, e conduzo o
assunto sobre o que acham das mulheres de vitória, e se resistem as tentações mesmo
sendo casados.
Um deles inclina o corpo, posição de ataque, querendo
alcançar meu perfume e também me aproximo.
Tudo meio imperceptível, ou talvez não, e o Guido já não
sabe como desfazer nossa química.
Sair com os dois seria impossível, então passo discretamente
um bilhete com meu telefone e a mensagem. Se quiser, me liga, só você, ainda
hoje.
Volto para minha posição original, abro meu telefone e deixo
os três sem assunto. Logo peço para ir embora, com cara de chateada e o Guido
quer saber o que tinha no bilhete.
Mantenho o suspense e só revelo já dentro do carro.
Entre chateado e excitado ele confere e vê que ainda estou
de calcinha: - Ao menos isso. E se o cara ligar?
Tiro a calcinha, coloco os pés no painel com as pernas bem
abertas e murmuro:
Hoje sou só sua: número errado.
Rimos, nos xingamos, nos
beijamos e entramos no primeiro motel. Seria perda de tempo esperar até em
casa.
Nenhum comentário:
Postar um comentário